sábado, 26 de abril de 2008

Imemoráveis 3

Sebastião se encontrava sentado em um dos bancos na frente do Inn, quando avistou o velho do dia anterior do outro lado da rua. Se lembrava como não só o velho, mas toda a cidade o tinha desrespeitado. Tinham sido arrogantes, pretensiosos e muito pouco prestativos.

O matador sabia que em outras épocas aquilo significaria morte para cada insolente em seu caminho. Mas depois de algumas horas na cidade percebera que aquela região tinha mudado muito durante suas viagens. Se as pessoas tinham ficado idiotas, não poderia culpá-las e certamente matar um dois idiotas não transformaria o restante dos idiotas em alguma coisa respeitável. A maioria parecia não saber o que era um Matador, alguns poucos mais velhos conheciam histórias e além do velho apenas mais duas ou três pessoas na cidade pareciam ter idade suficiente para se lembrar de Sebastião.

Quando entrara na velha pousada na rua principal, um garoto com não mais que 16 anos estava atrás do balcão. Parecia desinteressado e não deu muita importância ao novo cliente. Há anos não tinham um novo cliente, é verdade. Mas há ainda mais tempo não recebiam visitas de alguém digno de interesse. Viajantes maltrapilhos e vagabundos foram os últimos hóspedes antes que as grandes viagens fossem completamente cessadas.

Sebastião andou até o balcão dando uma olhada no local. Não parecia nada com a velha estalagem que havia deixado pra trás. Prosperidade não parecia ser uma coisa comum naquela cidade. O assoalho de madeira rangia a cada passo. O sol não entrava somente pelas janelas, mas também por pequenos buracos espalhados pelo velho telhado.  O pequeno Hall, antes mobiliado com antigas poltronas de couro e pequenas mesas de madeira, agora não apresentava mais que um par de cadeiras, que provavelmente só eram usadas pelos próprios empregados do local. No balcão a podridão tomava conta da madeira e eram visíveis vários remendos.

O matador já tinha chegado ao balcão quando o garoto resolvera falar. Sebastião apenas levantou a mão num gesto de “pare aí”. O garoto obedeceu, ainda sem visível interesse.

- Gostaria de falar com Decoy. Poderia chamá-lo pra mim?

O garoto olhou-o com desconfiança. E mostrou-se irritado.

- Como conhece esse nome? Meu pai não pode vir agora.

Sebastião estava surpreso. Decoy agora tinha um filho? Um pirralho mal criado era verdade. Mas não se podia esperar mais de um filho do velho Decoy.

- Diga a ele que Sebastião está aqui. Ele virá.

O garoto mudou completamente ao ouvir o nome. Era como ligar um botão.  Em um instante estava completamente desinteressado, não parecia prestar atenção nem mesmo na conversa e no seguinte, olhava Sebastião de cima a baixo com uma incrível curiosidade. Depois como se tivesse lembrado-se de algo desanimou-se novamente e falou com desdém:

- Meu pai não gosta de mentirosos. Duvido que sobre algo de você se ele o pegar contando mentiras por aí.

Sebastião, não parecia muito satisfeito, tirou o chapéu e o colocou sobre o balcão, depois desceu até a altura do garoto e olhou-o nos olhos. O garoto pensou que com aqueles olhos, o homem não devia ter muita dificuldades para convencer as pessoas a fazer sua vontade.

- Garoto, não espero que você acredite em mim, na verdade pouco me importa no que você acredita. Chame seu velho aqui, antes que perca minha paciência e faça uma coisa muito errada. Vá, e diga meu nome. Não me importa o que ele está fazendo.

Dessa vez o garoto virou-se sem dizer nada e foi em direção a porta empenada no fundo do balcão.

O matador ainda esperou vários minutos antes que o garoto retornasse. Voltou amedrontado e com a cabeça baixa.

- Meu pai disse que era pra deixar você entrar. Devo ficar aqui. Ele está no quarto dele. Siga até o fim do corredor e...

- Eu sei o caminho. Obrigado.